16.7.20

Preconceito

Oi Pessoal!!

         Eu resolvi falar com vocês sobre um dos assuntos que as pessoas que tem alguma deficiência, enfrenta direto, alguns mais que os outros, muitos falam que isso não existe mais, tem quem diga que isso é mais coisa das nossas cabeças, mas a verdade nua e crua é uma só: o Preconceito existe, seja disfarçado ou descarado, e tem um efeito nocivo.

         Passei por muitos episódios, comecei a passar por esses momentos quando ainda era criança, ao andar de ônibus com a minha mãe, as pessoas ficavam olhando com aquele olhar de pena, quando não diziam coitadinha, mas quando era criança eu na minha inocência falava: - Deixa mãe o povo falar nem ligue, nem ligue deixa o povo falar....

         Fui crescendo, começando a entender as coisas, ganhei minha primeira cadeira de rodas, fui para Brasília pela primeira vez, na casa de parentes, eu só podia descer para brincar no rol do prédio, quando não tivesse nenhuma criança, só podia fazer amizade com a filha do síndico, e não podia interagir com ninguém mais, além de ficar a maior parte do tempo dentro do apartamento, não podia nem sonhar em encostar nos móveis para não arranhar, todas as minhas refeições eram feitas na cozinha junto com os empregados.

         Veio o período de começar a estudar, a escola não queria me aceitar, e ainda falou que se eu fosse estudar nela, seria em uma sala separada, mas meu pai bateu o pé, disse que eu iria estudar sim naquela escola e seria junto com os outros alunos.

         Fiquei adolescente, começou as paqueras, era duro ouvir, “você é linda, pena que está em uma cadeira de rodas, se eu namorar com você o que minha família e amigos vão dizer...” E o tempo foi passando, e eu comecei a enfrentar com a cabeça erguida esses momentos, jurando que isso não iria me machucar.

         Até o dia que eu fui pegar um ônibus o elevador que uso para subir quebrou, fazendo que todos descessem e pegasse o próximo ônibus, que estava com o elevador com defeito também, e os passageiros começaram a descer me xingando e dizendo que a culpa por quebrar todos os ônibus era minha, que lugar de aleijado é em casa, não atrapalhando a vida das pessoas normais.

         Lembro que não conseguir enfrentar de cabeça erguida, que não tive resposta para isso, só comecei a chorar, sentindo o peso do Preconceito, da Diferenciação que as pessoas fazem por você ter ou não uma deficiência. Me feriu demais esse momento, chorei bastante, ainda bem que tinha minha mãe comigo e foi a vez dela me dizer: “ - Filha, não ligue para o que o povo diz, deixe eles falarem nem ligue, nem ligue deixe eles falarem, isso não define quem você é”

         Ela como sempre estava muito certíssima, olhando para traz por todos os momentos de preconceito que já passei e sei que ainda vou passar, só me mostra como sou forte, e verdadeiramente não sou uma aleijada, não sou uma pessoa limitada, sou simplesmente uma mulher que usa a cadeira de rodas para se locomover, afinal alguns utilizam os pés, eu uso as rodas da minha cadeira, posso garantir, essas rodas já andaram por aí, mas que muitos pés!!


Beijos💋

Paula Ravenala


3 comentários:

A minha missão de vida, é lutar por Acessibilidade!!!

  Olá Pessoal!!! Como vocês estão? Espero que bem, eu estou entre meus altos e baixos, dias bem e dias doente. O bom que tudo é passageiro, ...